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Por que “certos” estratos socioeconômicos defendem a Meritocracia como valor moral (?)

  • Foto do escritor: Jaime Silva
    Jaime Silva
  • 6 de ago. de 2018
  • 4 min de leitura

Aqueles que têm mais aptidão, ou que se esforçam mais, que trabalham mais devem conseguir uma posição de mérito. Se por mérito entendemos elevação social e econôm

ica. Um alto cargo, ou alto salário, a própria empresa crescendo podem ser citados como exemplos.


Pierre Bourdieu faz uma distinção entre subjetivismo e objetivismo. Pelo subjetivismo as escolhas das pessoas, seus desejos, ações e escolhas são determinadas pelo próprio sujeito. Por outro lado, não se pode entender os sujeitos apenas como corpos flutuando no espaço. Mas como seres sobre estruturas e fazendo parte desta estrutura. Logo, seus desejos, ações e escolhas são determinados unicamente como resultados desta grande estrutura. Ele procura entender a sociedade como uma interação destes dois conceitos. Nietzsche também fazia o mesmo, mas diferente de Bourdieu, ele tendia para os indivíduos e para resultados não determinísticos. Logo, as escolhas, ações, desejos são determinados tanto pela estrutura social, tempo histórico, espacialidade, etc. que o sujeito vive como pelo próprio indivíduo em alguma medida difícil de distinguir.

A meritocracia é definida como:“Meritocracia (do latim meritum, “mérito” e do sufixo grego antigo κρατία (-cracía), “poder”) é um sistema de gestão que considera o mérito, como aptidão, a razão principal para se atingir posição de topo. As posições hierárquicas são conquistadas, em tese, com base no merecimento e entre os valores associados estão educação, moral, aptidão específica para determinada atividade. Constitui-se uma forma ou método de seleção e, num sentido mais amplo, pode ser considerada uma ideologia governativa. § A meritocracia está associada, por exemplo, ao estado burocrático, sendo a forma pela qual os funcionários estatais são selecionados para seus postos de acordo com sua capacidade (através de concursos, por exemplo)” (Wikipédia). Ou seja, aqueles que têm mais aptidão, ou que se esforçam mais, que trabalham mais devem conseguir uma posição de mérito. Se por mérito entendemos elevação social e econômica. Um alto cargo, ou alto salário, a própria empresa crescendo podem ser citados como exemplos.

Logo, o sujeito vai introjetar-se de que realmente, ele trabalhou duro e conseguiu uma posição que ele acredita ter sido por mérito.

Contudo, entretanto, todavia, o mundo é esse conflito de forças onde se pode por o objetivismo e subjetivismo de lados opostos, mas integrados. As pessoas que tem mais capacidade (capacidade de agir no mundo, ou seja, podem arrumar um emprego hoje, viajar, ter alguém que sustente suas necessidades básicas para que ela apenas estude, etc.) têm a tendência de adotar o discurso da meritocracia, pois na maioria das vezes elas estão no mundo onde as coisas acontecem. Onde se elas trabalharem elas irão crescer. Logo, o sujeito vai introjetar-se de que realmente, ele trabalhou duro e conseguiu uma posição que ele acredita ter sido por mérito. Neste momento temos que introduzir um grande “MAS” nesta história. As pessoas que tem privação desta mesma capacidade, um conceito que o economista indiano Amartya Sen chamou de pobreza de capacidade, também trabalham duro e, diferente dos primeiros, parecem que estão no mundo onde as coisas não acontecem. Esse trabalho duro algumas vezes volta para eles como um pequeno salário que mal dá para sustentar a si próprio e a sua família. Às vezes trabalhando duro, no longo prazo, apenas irá conseguir criar seus filhos que “talvez” façam um curso superior.

Então estes últimos, que no jargão econômico começam com uma dotação inicial bem menor, têm uma tendência a acreditar que a meritocracia é uma conversa fiada. Pode-se tirar a seguinte hipótese: é mais fácil para um pobre (entendendo pobreza como falta de oportunidade para crescer) desconsiderar o discurso da meritocracia e acreditar que as pessoas só chegaram neste “sucesso” porque já tinham riqueza de recursos e oportunidades. Por outro lado, as pessoas de classes mais abastadas (de oportunidades) e que quando trabalham conseguem seus objetivos com mais facilidade acreditam sim que a meritocracia deve ser um valor importante na sociedade e até defendem ele ao verem que algumas pessoas são ajudadas a conseguirem o sucesso (exemplo: bolsas de estudos para quem tem baixa renda, negros, etc.). Outra hipótese que está implícita é que a métrica de sucesso ou riqueza é a mesma para ambas as classes sociais: ascensão socioeconômica.



Como entra nossa liberdade nesse jogo de forças? Entra no sentido de se esforçar (ser guerreiro) na compreensão deste jogo de forças para que esse conhecimento aplicado às nossas vidas possam se transformar em um aumento da potência e não em meros resultados econômicos financeiros. Estes seriam nada mais que um efeito colateral. E é preciso deixar claro que uma sociedade que pauta de sucesso aquilo que é um efeito colateral e não tem sensibilidade para a atitude do individuo que deseja compreender para poder ser (ele mesmo) melhor no mundo, e que culpa aqueles que têm menos capacidade de agir por não agir, não pode ser entendida de saudável. Neste ponto Nietzsche aponta um absurdo:“Exigir da força que não se expresse como força, que não seja um querer-dominar, um querer-vencer, um querer-subjugar, uma sede de inimigos, resistências e triunfos, é tão absurdo quanto exigir da fraqueza que se expresse como força.” (GM, I, §13).

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