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Sobre o Clube da Luta

  • Foto do escritor: Jaime Silva
    Jaime Silva
  • 6 de ago. de 2018
  • 6 min de leitura

Atualizado: 9 de ago. de 2018

Seguem alguns comentários sobre o filme Clube da Luta e sobre o personagem Tyler Durden.


O meio de vida de Tyler é peculiar, pois ele fabrica sabão de gordura humana. Ele pega gordura do lixo de clínicas de tratamento estético e fabrica sabão que vende para lojas de luxo onde as mesmas clientes da clínica hipoteticamente compram o sabão feito de suas gorduras. O Tyler é cheio dessas ironias. Na terceira parte do filme o Tyler cria o projeto caos e destruição onde ele intenta criar um mundo melhor a partir da destruição do mundo capitalista. A ideia é destruir os prédios com banco de dados de cartões de crédito fazendo com que as empresas não saibam quem deve e quanto crédito as pessoas têm isso geraria um caos no mundo financeiro. Mais uma vez a ideia de conflito, luta e destruição aparece como solução. Ele põe o conflito com uma coisa boa.


Na verdade o ser humano é a criatura que ele mais lembra, e ele não quer criar a destruição, mas ele reconhece que só pode criar algo novo destruindo algo. Explicando melhor: o conflito não necessariamente destrói as coisas, mas cria novas coisas, se não há conflito não há criação e principalmente superação. Exemplo: em uma corrida os competidores em conflito com eles próprios e com os seus adversários quebram barreiras e se superam, se não houvesse esse conflito não teríamos incentivo para ir mais além (cuidado para não confundir superação de si com superar o outro). É a situação do Jack no filme, pois uma vida completa, onde nada mais existe para criar é uma vida desencantada. Mas você diz e a guerra, é um conflito? É sim, mas a guerra só gera destruição quando nos tentamos conquistar através da guerra coisas absolutas (como o mundo que o nazismo pensava em criar, ou o conflito entre a igreja e a ciência em busca da verdade absoluta do universo). Neste caso ele é um conflito que destrói a vida humana. Então esse desejo de absoluto parece destruir mais que beneficiar as pessoas, estamos ficando mais medíocres nisso que chamamos de desenvolvimento.


A conversa do bar é muito interessante (ela acontece depois de o Jack destruir o apartamento), o Tyler levanta alguns pontos que são gritantes para o homem moderno tipo ele pergunta: o que é um edredom?

E na resposta ele replica perguntando qual a importância deste conhecimento para a nossa sobrevivência?

Se todo conforto material que o desenvolvimento capitalista trouxe era para garantir a sobrevivência, por que não paramos de nos preocupar com a sobrevivência e vamos fazer algo interessante?

Ele diz mais ou menos isso: “quem se importa com homicídio, fome, pobreza, eu quero ter minha TV com 500 canais, um carro na garagem e dinheiro”.

O sentido da minha existência é individual (o pensar por dualismos desemboca nisto, individualidade), o que importa é eu ser feliz tendo um monte de quinquilharias no meu apartamento e usufruindo dos serviços, etc. numa sociedade de consumo, ou seja, o sentido da minha existência é consumir. Mas o Jack parece que não esta sendo feliz apesar de ter feito os deveres de casa…

Em seguida ele diz que estava quase se tornando pleno tendo o seu apartamento e o que o Tyler responde: “o homem não devia tentar se tornar pleno, mas apenas seguir” esta é uma das definições do Übermensch de Nietzsche (do homem que iria além do homem que existe na sociedade moderna, que supera os valores deste homem fraco que é o homem moderno, depois explico melhor esse conceito). Ao longo do filme percebemos que o Tyler pode ser entendido como um Übermensch. Que as leis do deste mundo são vazias e as pessoas não as seguem, então perceba que ele dita e repete as regras do clube. Ou seja, ele dar algo concreto para eles pisarem no lugar no vazio antigo. Ele esta o tempo todo mostrando como os valores do homem moderno e o mundo que ele criou são chato, desencantado, sem graça, sem sentido, niilista. E é isso que ele quer superar através de uma forma de ditar novos valores mais humanos.

E uma coisa muito importante que o Tyler faz é dar sentido a vida não apenas do Jack como também de todos os outros que ele chega perto (ele pergunta o que as pessoas querem fazer da vida).

Ele fala brevemente de como seria a vida em uma pós-capitalismo em uma parte muito pequena (onde dissecaria carne de veados cassados nas autoestradas americanas e se abrigaria em prédios abandonados, etc.).

Existe uma relação do Tyler com uma mulher chamada Marla no filme. Talvez isso lembre o conflito entre os sexos e que homem e mulher também são forças opositoras que podem ser entendidas como uma só força que dividimos. Melhor dizendo, todo ser humano (homem ou mulher) possui impulsos que nomeamos de masculinos e femininos. Tais impulsos são recebem estímulos e desestímulos morais (dependendo do sexo que a pessoa nasce ela vai receber estimulo em um e desestimulo em outro de forma muito desigual). Mas Nietzsche diz que esses lados entram em conflito e se unem para gerar uma nova vida (um filho…) ou um ser humano mais completo.

Três ideias interessantes enquanto eu pesquisava sobre:

Primeiramente, li em um site a ideia de o Tyler ser o Übermensch e nisto ele seria aquele que ensina o Jack a superar os valores humanos e ir além deles se tornando também um Übermensch. No final do filme o fato do Jack matar de alguma forma o Tyler mostra essa superação (não preciso mais dele, já superei meu mestre). O plano dele parece querer destruir a sociedade de consumo explodindo os prédios onde estão os dados de cartões de credito, isso iria gerar um caos no sistema bancário e financeiro, é interessante, mas não parece que seja o suficiente para fazer a mudança que ele queria. Neste caso Nietzsche está apontando mais para uma nova ética e um sentido humano aqui na terra e não nos signos das coisas que consumimos. Ou seja, destruir a raiz do consumo não mudaria a humanidade como ele pensa que iria mudar (minha opinião), mas o nascimento de um novo homem.

Segunda coisa interessante é que ele se desconecta da sociedade materialista que vivemos e passa voluntariamente a morar em uma casa caindo aos pedaços e com o mínimo necessário (2 calcas, 5 camisas, etc.). Ele estaria indicando que o homem pode até ter evoluído muito no seu lado material (nunca produzimos tanto e com tão poucos recursos), mas nosso lado ético anda muito atrasado, ou melhor está piorando. O homem apenas sobrevive ao consumir desenfreadamente e não melhorar seus valores morais. É uma ideia de Nietzsche e é nisto que ele diz que estamos nos tornando cada vez mais medíocres, pequenos, fracos, iludidos e criando um mundo também medíocre e desencantado. O apequenamento dos nossos valores está no fato de estarmos desvalorizando o que antes era valorizado e no fim não vai haver mais nenhum valor, ou seja, o niilismo.

A outra é a cena do Raymond . Onde ele entra numa loja com uma arma e tira o funcionário ameaça de morte. No entanto, o mais interessante é que ele mostra que o Raymond está (assim como a maioria) levando uma vida no piloto automático. E o Tyler pergunta o que ele gostaria de ser, e percebe que o Raymond não faz aquilo que gostaria (que era estudar para ser veterinário). Então ele o deixa ir embora e diz que se ele não voltar a estudar para ser um veterinário em seis semanas ele estará morto. O que ele quer mostrar é que as pessoas não tem coragem suficiente de estabelecer um sentido para a sua existência e seguir esse objetivo, logo, acabam se deixando serem influenciadas pelas ideologias dominantes que nos mandam o tempo todo ser alguma coisa que não necessariamente queremos-as para isso temos que encarar o niilismo. Este seria a total falta de valores (para se acreditar) que pode ter começado (ou se intensificado) no pós-guerra sem os valores religiosos, econômicos, científicos, mas que ainda os mantemos e nos entregamos a picuinhas (consumismo, fundamentalismo religioso, vida pacata) para escapar desse vazio, pois não conseguimos criar valores (“perdemos o caos dentro de si”). Precisamos nos fazer perguntas inconvenientes: (O que fizemos em nossa vida?). Qual nosso objetivo de vida? Como os valores que cultuamos na nossa sociedade se tornaram os valores supremos? Nós criamos esses valores ou já estavam aí? Como eles nasceram? Você saberia criar valores afirmativos da vida? Você agiria do mesmo jeito depois de se fazer essas perguntas?

Talvez não sofrêssemos por um mundo transcendente, nem por um mundo melhor no futuro, nem por que estamos tentando melhorar algo. Talvez sofrêssemos por que estamos sendo vividos por uma vida imposta. E se o medo de enfrentar essa imposição e encarar o sofrimento da vida nós faz continuar fugimos da própria vida.


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