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Niilismo

  • Foto do escritor: Jaime Silva
    Jaime Silva
  • 6 de ago. de 2018
  • 5 min de leitura

Atualizado: 14 de ago. de 2018

Usualmente uma pessoa é considerada niilista quando ela não segue regras superiores, ou não acredita em uma instância superior (além deste mundo).



Nietzsche fala muito sobre o niilismo. A palavra niilismo vem do latim e significa nada, zero absoluto. Usualmente uma pessoa é considerada niilista quando ela não segue regras superiores, ou não acredita em uma instancia superior (além deste mundo); ou alguém que não acredita na verdade absoluta. O personagem Bazárov do romance “Pais e Filhos” de Turguêniev é esse tipo de niilista. Não confunda com ateu, pois pode existir ateu que não é niilista, pois ele acredita em valores superiores de alguma outra forma. Mas o que é o niilismo para Nietzsche? Para ele é um movimento em que os seres humanos estão inseridos e negam o mundo e a vida como estes se apresentam para nós. Então uma pessoa ou ato podem ser adjetivados como niilista. Gilles Deleuze faz uma interpretação desse conceito no Nietzsche e sugere que existam quatro tipos de niilismo. Vamos fazer um entendimento dos termos e ligar de forma interessante algumas obras cinematográficas como exemplos em outro post.

A História do Niilismo (Segundo Deleuze) Niilismo negativo.

No niilismo negativo este mundo, aqui e agora, é negado em nome de um mundo superior como o paraíso cristão ou o mundo das ideias da filosofia de Platão. Não precisa ser um lugar no universo como o paraíso, mas uma ideia como uma sociedade comunista, uma vida melhor no futuro, etc. Neste caso o mundo é apresentado como mundo das aparências e este mundo é negado em nome de algo que chamaríamos de “mundo-verdadeiro” que estaríamos destinados a ocupar.

O grande problema é como esses mundos, que ficariam além (no espaço e/ou no tempo), mudam nossa forma de agir, como eles mudam nosso comportamento e nossa postura diante da vida. Imagine o niilista negativo como a pessoa que duplica o mundo, ele chega e diz: “existe outro mundo que é melhor”. E tudo que está ligado ao mundo ideal é bom e o que está ligado ao mundo real é ruim. Então ele tende para o bom e foge do mal, logo ele nega esse mundo. Essa é a postura de negação do mundo e da vida que ele tem. É a pessoa que sofre a semana inteira esperando ir para a praia no final de semana, pois o ideal seria viver na praia, sem trabalho, sem um patrão que te obriga a fazer um trabalho que você odeia, ou seja, uma vida plena de prazer.

Niilismo reativo

Em um segundo momento o niilismo nega os valores supremos que foram ditos acima como uma reação. Se o mundo perfeito não existe o niilista reage negando aquilo que está além (paraíso, comunismo, ideal, etc.). Niilismo reativo, pois nega o outro mundo também como reação pelo outro mundo não ser verdadeiro; por ele nunca se concretizar e isso é a própria evolução de uma vontade. Neste momento o niilista se volta para o mundo real, mas continua negando-o mesmo sabendo que não existe nada além deste mundo real. Essa reação Nietzsche chamou metaforicamente de “morte de Deus” que explicaremos em breve.

No entanto, seria um homem que ainda acredita em Deus no sentido religioso, mas esse Deus não influencia as coisas importantes da sua vida. O sentido da sua vida não precisa de deus, mesmo assim ele continua indo para a igreja. Niilismo passivoQuando você leva essa reação até as últimas consequências, você chega ao niilismo passivo. Onde a verdade é linda, a vida é bela, descobrimos a felicidade, e vivemos em uma bolha onde nada de mal pode nos abalar. Ele está sozinho em um mundo desvalorizado (sabe que deus está morto), mas não consegue criar valores novos. Então ele pega pequenos valores humanos (bem-estar social, paz, justiça, riqueza material, etc.) e coloca-os como sendo divinos. Não muda os valores existentes e não é capaz de criar novos valores nem novos sentidos para sua vida. Acreditamos que esse tipo é o homem que existiu (e ainda existe) durante o século XX. Aquele que não faz as perguntas desconfortáveis sobre a vida. Que segue exatamente aquilo que a sociedade o manda fazer para ser feliz, que consome tudo que outros dizem que é bom, que ler os livros best-seller do momento, que vai ao restaurante mais badalado, que fala do último escândalo político, e acima de tudo, luta por uma vida confortável. São aqueles que pensam que a felicidade é conforto, e não apenas conforto material, mas também um conforto espiritual e filosófico.

Este consiste em conhecer tudo no universo para que não haja mais nenhuma pergunta para ser respondida. Um mundo onde os homens já têm respostas prontas para todas as questões. Por isso no prologo do Livro “Assim falou Zaratustra”, ele fala que os últimos homens falam entre si: “nós inventamos nossa felicidade” e pisca os olhos como quem dar um sinal para o outro acreditar na mentira que acabou de ser dita. Que necessitam estar juntos para se esquentarem, pois não são capazes de cintilarem sozinhos (já pensou por que a solidão é tão mal vista nos dias atuais). Que precisam de “uma dose veneno para o dia e uma dose de veneno para a noite”, precisam de alguma droga para encarar a vida. Essa droga vai desde medicamentos que usamos para estresse, depressão, hiperatividade, etc. como drogas de verdade que nos tirem da vida com ela é.



Este tipo é chamado de niilista passivo por não ser capaz de criar novos valores. É contra o perigo de essa raça existir no mundo por muito tempo ou dominar que Nietzsche entra em conflito e aponta esse perigoso inimigo, o único inimigo perigoso. Apesar de não crê em deus ainda acredita no diabo e por isso ver um mundo com ódio e ressentimento nos olhos.

Niilismo ativo

O niilismo ativo é o outro caminho que essa evolução histórica pode levar. Se nos encontramos em um mundo onde os valores absolutos foram derrubados; o mundo a nossa volta foi desvalorizado; o passado nos trás culpa ou saudade; o futuro é mais temível do que esperançoso; só nos resta resgatar a vontade de vida que foi envenenada pelas forças reativas usar essa vontade para seu proposito original: a criação. O homem criou valores, mas acabou esquecendo que ele inventou o bem e o mal e remeteu aos deuses esse poder. Precisamos nos revoltar contra esse movimento de empobrecimento. O niilista ativo gosta da destruição dos valores antigos, por abrir espaço para a criação de novos valores. Ele se contenta com a morte de deus, afinal “não é com o ódio, mas com riso que se mata” (Zaratustra). Esse niilista ama o vir a ser, ama o conflito de forças da vida.

A vontade de potência inerente à vida é uma vontade que deseja criar e expandir, e jamais negar. Mas ele não foge das dores naturais do mundo, ele deseja renovação, mas, “você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?” (Zaratustra).

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