Filmes Niilistas
- Jaime Silva
- 6 de ago. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 14 de ago. de 2018
como o cinema pode ajudar a entender o niilismo?

Matrix (Andy Wachowski & Lana Wachowski, 1999).
Primeiramente recomendo que assista aos filmes quando tiver a oportunidade. Neste filme você pode ver um exemplo de um niilista negativo. O filme se passa em um futuro onde máquinas com uma inteligência artificial avançada domina a maior parte da humanidade após uma guerra que quase destruiu a vida na terra. Mas essas máquinas precisam da energia dos homens para sobreviver. Então eles cultivam os humanos criando pessoas em óvulos mecânicos onde seu cérebro é ligado a um sistema onde passa um mundo virtual para nossas mentes e vivemos em um mundo virtual igual ao nosso, só que antes da guerra. Alguns resistiram a essa dominação e retiram algumas pessoas desse sistema para lutar contra as máquinas.
A personagem Cypher no meio do filme faz um acordo com as máquinas para continuar vivendo no mundo virtual, apesar de ter sido liberto deste. Essa é uma atitude niilista. Ele nega o mundo real (esse mundo real que falo é nossa vida aqui e agora, repleta de uma multiplicidade de dores e prazeres, de lutas de forças, com tragédias e glórias) por ser perigoso, feio, imperfeito, etc. Ele não consegue aceitar o mundo real e quer voltar para o mundo virtual em uma atitude de negação do mundo e da vida como ela realmente se apresenta para nós. Ele chega a reclamar da comida na cena em que faz o acordo. Ele não é forte o suficiente (e também não quer se tornar forte) para aceitar o mundo real. Ele diz que está cansado, talvez cansado da vida como ela realmente se apresenta. Assim como a filosofia de Platão entende que pertencemos ao mundo das ideias, o cristão que pertencemos ao paraíso, o comunista que pertencemos a um mundo sem classes sociais e sem opressão, esse personagem acredita que pertence ao mundo virtual e despreza o mundo aqui e agora assim como todos esses outros exemplos. Por isso Nietzsche chama de niilista, pois tem uma postura negativa para com o mundo que está diante dele. Aliás, para ele o mundo virtual serve, primeiramente, para desprezar o mundo real. Como diria Raul Seixas: “Ouço um chato que me grita nos ouvidos, pare o mundo que eu quero descer”.
É preciso desviar desta postura negativa diante da vida...

Galileo Galilei (Joseph Losey, 1974).
O filme mostra como as descobertas de científicas de Galileu, entre outras na época, afetam a vida da sociedade. O fato da terra não ser o centro do universo incomoda bastante a igreja e mais ainda a população. O fato niilista do filme é que a igreja não é capaz de dar respostas verdadeiras sobre o universo, mas a ciência parece mostrar que é capaz de chegar até essas respostas. Então essa reação da queda na crença da igreja como portadora da verdade sendo trocada para a crença na ciência como sendo a portadora da verdade é mostrada ao longo do filme. Não apenas no campo do conhecimento, mas no que diz respeito à nossa existência. Há alguns séculos atrás se acreditava que o caminho para o homem ser bem sucedido, feliz e próspero era aquele dito pela igreja, mas agora os homens tem a ciência que pode dar um caminho alternativo. O filme é um musical e algumas músicas mostram o desespero da terra não ser o centro do universo. A grande descoberta que não existe verdade absoluta ou metafísica é uma reação do novo movimento e o desespero daqueles que ainda estão no niilismo negativo.

Melancholia (Lars von trier, 2011).
O filme mostra o fim do nosso mundo e a forma como as pessoas são afetadas por esse fato. Um planeta gigante vai se chocar com a terra e todos vão morrer. A personagem Justine parece ser a única que assume a consciência de que estamos sozinhos e que não podemos fazer nada para nos salvar. Ela vai se afundando na angústia que a morte iminente causa, não foi capaz de criar um sentido verdadeiro para a vida, pois continua negando a vida. Como a morte faz parte da vida, ela também nega a morte. Então quando é colocada para encarar a morte de frente não encontra valor algum nem neste mundo nem em outro. Resta apenas a depressão profunda que o personagem passa. E uma tentativa fugaz de escapar do destino, fugaz por que é passiva.
A outra personagem, Clair, também sente alguma angústia, mas de forma silenciosa. A angústia da Clair vai explodir na forma de desespero. São niilistas por viverem como o último homem, em um conforto pleno. Tanto que o filme começa com o casamento de Justine, com as picuinhas humanas que são vistas como grandes problemas. Ambas podem ser vistas como niilistas passivas. A grande sacada do filme é tirar eles deste conforto ao colocar essas personagens em um cenário apocalíptico. Então as personagens implodem, por não terem cultivado a força da vida que existia nelas. Entenda vida como foi descrito no início.
Clube da luta (David Finsher, 1999).
O filme conta a historia de um yuppie que tem uma vida boa com seu rentável emprego e comprando tudo o que deseja. No entanto ele abandona essa vida de conforto material para viver em um apartamento caindo aos pedaços, lutando no porão de bares com outros homens. Ele tem alguns problemas como sono e começa a frequentar grupos de autoajuda. Quando ele vê que o sofrimento (e a dor) do outro é maior que o dele ele consegue chorar e consegue dormir. Em outro momento ele encontra o Tyler, um homem determinado que já superou os valores e regras da sociedade atual e parece poder fazer o que quer e ir onde desejar. Com o Tyler eles criam o “clube da luta” que é uma luta sem motivo entre dois homens com algumas regras (É quando ele encontra o Tyler que ele deixa o seu apartamento e vai viver com ele em uma casa abandonada).
O Tyler é o tipo niilista ativo. Ele se propõe a derrubar os valores mesquinhos da sociedade e criar novos. Fala de um mundo onde “você vai usar roupas de couro que vão durar a vida toda e escalar as trepadeiras grossas como um pulso enroladas na Sears Tower. Como João e o pé de feijão, você vai atravessar a copa das árvores e o ar será tão limpo que verá pessoinhas batendo milho e estendendo tiras de carne de veado para secar nos acostamentos vazios de uma autoestrada com oito pistas e milhares de quilômetros de extensão”. Ele é sátiro com a sociedade que vive em um mundo falso, urina na comida da alta sociedade, quebra as regras da sociedade. Vive como um “espirito livre”. No decorrer do livro vamos falar mais sobre este filme.
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