O homem e o meio ambiente
- Jaime Silva
- 10 de ago. de 2018
- 3 min de leitura
Esta ideia de mudar a natureza a nosso favor nasce do modo niilista de viver.

Ao começar a ler esse pequeno livro em busca de respostas, me desculpe, mas talvez você tenha cometido um erro e espero que tenha aprendido com ele. Pois vai encontrar mais perguntas do que respostas, talvez nós te iniciemos na arte de fazer as perguntas “interessantes”.
Como tem sido a relação da humanidade (quando falo a humanidade, falo do conjunto de sete bilhões de humanos que habitam a terra) com a natureza? Por que tratamo-la desta maneira e não de outra? Por que sentimos que existe uma desarmonia entre a vida humana e os movimentos da natureza?
Tenho uma hipótese para algumas dessas questões. Lembra-se do niilista (todos eles excerto o ativo)? Pois bem, ele usa o mundo metafísico para negar este mundo, depois nega este mundo e o metafísico. Se o propósito é negar esse mundo, a primeira coisa que ele vai negar é a natureza. Mas não a ignorando, ele vai olhar para ela e dizer: “a natureza deveria ser de outra maneira”. Então ele irá tentar consertar a natureza. E vai falhar muitas vezes e ter sucesso em algumas. Ele vai criar ilusões para justificar tudo isso. Eis algumas dessas ilusões: o homem é o centro do mundo, a natureza foi feita para nos servir, somos livres para fazer qualquer desejo realidade, a tecnologia vai resolver nossos problemas, o crescimento econômico vai gerar riqueza para a maioria, a ciência descobre como controlar a natureza, etc.
Não sendo capaz de viver a vida como ela se apresenta o tipo fraco cria ilusões tão grandes que chega a tentar coloca-las em prática, mas falha eventualmente.
Esta ideia de mudar a natureza a nosso favor nasce do modo niilista de viver. Não sendo capaz de viver a vida como ela se apresenta o tipo fraco cria ilusões tão grandes que chega a tentar coloca-las em prática, mas falha eventualmente. Ele cria um vazio dentro de si mesmo e cria a ilusão de ter que preencher esse vazio com algo que está fora dele. Então começa a dominar o mundo ao seu redor. Começa a reivindicar direito a alguma coisa da natureza, criamos um homem cheio de direitos, mas não tem deveres.
Como consequência da hipótese acima, a crise ambiental que vivemos e o aquecimento global, a forma que nos relacionamos como nosso corpo, etc. são consequências desse posicionamento para com a natureza que nasceu há muito tempo atrás. Os discursos são hipócritas, não falamos de formas que realmente resolvem a questão ambiental por que não estamos preparados para tais formas.
Criamos um mundo que gira em torno do consumismo, e enquanto existir recursos temos uma tendência a gastá-los devido essa forma de existir cheia de direitos. Ainda necessitamos das muletas metafísicas para viver, ainda somos demasiados negativos diante da vida, ainda tiramos muito da natureza e não criamos nada em troca... Estamos apenas bebendo de uma fonte que fingimos ser infinita. Outra ilusão é dizer que temos direito a tirar da natureza o que precisamos e romantizamos a natureza dizendo que ela nos dar algo e chamamos de "dádivas da natureza", mas quando a natureza gera um tsunami que destrói nossas vidas a visão romantizada aponta para outro lado. Busca culpar um demônio de outro mundo, ou uma falha da ciência, ou pior culpa a si (o homem). Já que acreditamos que podemos controlar, essas tragédias acontecem por que ainda não chegamos ao nível de conhecimento necessário.
Não tendo esse conhecimento, o tipo reativo de homem cria ilusões com o sistema capitalista, e com isso poderíamos comprar, vender, produzir os chamados serviços da natureza. A redução da natureza em valor de troca (neste caso) é uma forma de apequenar o mundo e cobrir ele com um véu ilusório de que poderíamos substituir a natureza explorada por alguma coisa artificial (criada em laboratório). Como se ao derrubar uma floresta pudéssemos replantar todas as arvores em sua variedade e recriar a natureza. Este tipo de ideal esperançoso só aparece dada a crença na ciência como solução dos nossos problemas. E assim caminhamos para a autodestruição de nós mesmos.

Apenas uma vida intensa e interessante pode ser considerada sustentável, ou compatível com o meio ambiente. Uma economia dos afetos e paixões. Onde geramos um excedente de força (ou potência) que se volta para nós mesmos gerando cada vez mais força. Este processo retroalimenta a si mesmo. É interessante, pois vai se aproximar, se comunicar e interagir com os outros no mundo nesta mesma economia dos afetos em busca de se intensificar. Vendo que o mundo e nós somos a mesma coisa o instinto de se dominar, consumir o mundo vai perder sua força até que vai deixar de existir. Vai perceber (talvez de forma inconsciente) que é mais saudável ser intenso do que ser extenso...
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