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O egoísmo e os espíritos livres

  • Foto do escritor: Jaime Silva
    Jaime Silva
  • 10 de ago. de 2018
  • 3 min de leitura



Uma música muito interessante do Raul Seixas que encontrei uma versão cantada pela Pitty chamada “eu sou egoísta”. Na música, primeiro ele descreve o tipo do homem do ressentimento, com seus medos e colocando culpa em tudo. Em seguida ele já contrapõe mostrando que é “estrela no abismo do espaço”, afinal como dizia Zaratustra: “é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante”. E ele é essa estrela que dança no espaço. Em seguida “O que eu quero é o que eu penso e o que eu faço” mostra que ele é vontade de potência se expressando como uma força que age livremente. Daí a importância da vontade de potência se tornar tão forte que deixa de ser pensamento para se tornar ação. Ele fica oscilando entre o ativo e o reativo, tanto para mostrar a dança que o Raul Seixas faz com as palavras como para, afirmar-se como diz Nietzsche: “no modo de valoração nobre: ele age e cresce espontaneamente, busca seu oposto apenas para dizer Sim a si mesmo com ainda maior júbilo e gratidão”. No verso “Onde eu tô não há bicho-papão” é o homem capaz de viver para além do bem e do mal. Não existe o mal. Ele já se libertou do dualismo moral que ordena o mundo em bem e mau. Indo “sempre avante no nada infinito / Flamejando meu rock, o meu grito / Minha espada é a guitarra na mão”. Para ele existe apenas a superação de si como guerreiro, por isso sempre avante.

O artista é um guerreiro, por isso carrega seu estandarte (seu grito) e sua espada, ou seja, sua criação e sua ferramenta de criação. Na sequência mostra o ressentimento que quer a paz e a doçura, e quando não consegue essa fama fica com raiva e chora (que podemos entender como expressão do ressentimento), e pede para algum ser transcendente. A ação é deslocada para o além e o homem manso ressente por não poder agir. Foge da dor em contraste com provar o vinagre e o vinho é aceitar a vida como ela se apresenta, como uma mistura de dor e prazer. O desejo de ter tentação no caminho vem da necessidade do guerreiro de ter inimigos para se superar na guerra. “o homem é o exercício que faz”, mais uma vez ele enfatiza a ação como forma de cultivar o homem. Entendemos este como o home forte e ativo fazendo oposição explícita àquele que quer só paz. Se o gosto do mel é defeito do fel e a guerra é produto da paz, é por que não existe dualismo apenas uma coisa no universo que devem. É a superação do niilismo e afirmação de uma vida uma e ao mesmo tempo múltipla. Nos versos “O que eu como a prato pleno / Bem pode ser o seu veneno” podemos entender que o remédio de Nietzsche para superar o homem pode acabar por matar o paciente. Pode destruí-lo, mas ele completa dizendo: “Mas como vai você saber... sem tentar?”. Como o homem vai se superar sem começar a agir e a assumir riscos. Nos últimos versos ele desfaz a confusão que o homem do ressentimento pode fazer. Ele não é simplista ou socialista. Ele termina de forma genial dizendo “eu sou egoísta”, pois ele está apenas dizendo que ele é ele mesmo; que é apenas força que dança pelo universo alegremente em busca de mais força. E por que não ser essa força ativa? Por que negar a si próprio se essa força é tudo que você é.

[1] Veio escrito na embalagem, use e saia pra agitar.

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Âncora 2

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